<A corrupção não tem causa nem objetivo. A corrupção é simples, sem adornos não tem partes supérfluas - é uma coisa em si mesma, com sua própria configuração, seu próprio eu, razão de ser acima de qualquer compreensão. Está além de qualquer sentido social, ético, lógico ou Psico. Corrupção é: Por que roubam tanto justamente os que já têm tudo ou até demasiado? Será a corrupção o momento de uma esfera que rola ribanceira abaixo e não pode mais parar e ninguém consegue parar? De qualquer maneira, quando uma esfera rola, há um fundo ou patamar aonde chega, que é seu freio natural. Mas a corrupção é cancerosa, elimina do corrupto ou corruptor a mais remota possibilidade de parar ou retroagir e ser outra vez probo, digamos, pelo menos a partir dali. Pelo menos por cansaço. Os guerreiros se cansam, os atletas se cansam, os artistas se cansam, quase todos os outros tipos de ambições e características humanas se esgotam. A Corrupção - um pouco como o poder em si mesmo - é explosiva e, ao mesmo tempo, implosiva. Cresce, avança, ramifica-se, é metástase, envolve e irmana o corrupto e o corruptor, justifica-os, da-lhes forças, novos estímulos, toda uma motivação de vida - até o fim, até o último dia da existência, até a morte. A corrupção é indubitável, uma das muitas línguas pela qual o demónio - um poliglota - fala, mamãe, quando eu crescer eu posso ser corrupto?
João Ribeiro
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